DAMANI VAN-DÚNEM
A liberdade da criação
O Hip Hop tem assistido ao surgimento constante de nomes que já fazem parte do movimento mas que continuam fora do circuito discográfico. Ou porque são novos, ou porque não chegou a altura… Os motivos divergem. E é para lhes dar voz que nasce esta rubrica.
Damani Van-Dúnem nasceu em Angola, descobriu o Hip Hop em Moçambique e começou a rappar há cerca de oito anos. Um espírito brincalhão, festivo mas atento e consciente são as características que mais preenchem o perfil do MC. Hoje, tem o álbum de estreia quase gravado e prevê-se Janeiro como data de lançamento. Fiquem atentos ao nome "Mutatis Mutandis". Significa que o desejo de mudar aquilo que pode ser mudado não está tão longe de alcançar. Damani Van-Dúnem em discurso directo.
Por Vanessa Cardoso
IV Street: Quando é que sentiste que querias que o Hip Hop fizesse parte da tua vida?
Damani: Por volta de 1998 senti vontade de começar a cantar. Já ouvia Rap há uns cinco, seis anos, já escrevia algumas coisas e resolvi tentar. Tentei e ainda me lembro da primeira letra que escrevi, gravei logo essa música. Foi só o início, a partir daí foi sempre em frente.
IVS: Fala-me dessa primeira letra.
D: Era uma letra um bocado africanista, era sobre como estava a posição do negro no mundo, o que tínhamos que fazemos e como nos podíamos valorizar. Instrumentalmente, o beat era americano… (risos). Na altura eu não produzia, nem ninguém que fazia parte do meu grupo produzia, por isso usávamos bases americanas.
IVS: A partir daí, e até hoje, sentiste que foste passando por etapas?
D: Senti! Na altura vivia em Moçambique e tinha um grupo chamado Mozz Squad, devíamos ser uns sete ou oito numa primeira fase e cantávamos uns trinta segundos cada um em cada som. Cada um debitava uma cena… Passei essa fase e o grupo passou a ser eu e outro MC, desfizemo-nos daquela primeira formação. Então em 2000 é que as coisas começaram a correr e ficaram bem encaminhadas. Foi nesse ano que tive o primeiro concerto, em Moçambique, conheci grupos como G-Pro… A fase seguinte foi vir para Portugal. Em 2003, ao longo de um ano e meio, estive a gravar o primeiro disco, disco esse que ficou pelo caminho…
IVS: Pelo caminho, porquê?
D: Porque não estava a resultar. Houve fricções entre o produtor e eu, divergências de ideias, enfim, não correu bem. Depois dessa experiência, resolvi começar uma nova fase em que era eu o agente principal e aqui estou.
IVS: Quem é o Damani Van-Dúnem?
D: O Damani é o cérebro por detrás de nomes como Tango Mango, Joni Cash… Tenho muitos alter-egos. O Joni Cash é mais mundano, mais para o deboche, pronto para as noitadas. O Tango Mango foi o primeiro alter-ego, era mais ingénuo, mais puro. Depois tenho o Kenya que está mais ligado com as raízes africanas, o kuduro, semba, porque mais tarde, o desejo que tenho é enveredar por aí, por uma cena mais afro.
IVS: Porquê essa escolha em ter vários heterónimos?
D: Acho que mais do que uma escolha, é uma necessidade em tê-los. Eu caracterizo-me muito por partículas, por momentos, ramificações e na música não é diferente. Como gosto de fazer muita coisa, tenho vários lados, fui criando alter-egos para direccionar seja o que for que quero e gosto de fazer, nada mais lógico.
IVS: Sentes-te new school?
D: Não me sinto new school… Não me sinto porque se calhar o meu primeiro álbum já devia ter sido lançado há alguns anos. Mas também não me considero old school porque a minha forma de ver as coisas é muito moderna. Acho que estou ali, no intermédio.
IVS: Tens alma de artista?
D: Acho que sim. Pelo menos pretendo ter. Para mim, criar é o mais importante, é a única liberdade que realmente temos enquanto seres humanos e faz parte de toda a minha existência.
IVS: E por falar em liberdade criativa, quais são os temas que mais abordas?
D: Apenas vou escrevendo, não sigo uma linha ou um assunto em concreto. Escrevo sobre aquilo que sinto e que vejo durante o dia, o que leio, a informação que me chega. Claro que tenho preocupações, que tem mais a ver com o mundo em si e que se reflecte no que escrevo. Falo da pobreza, das alterações do clima, das relações entre pessoas, dos sete pecados… As minhas letras são muito globalistas e quero que todas as pessoas reconheçam o que se passa na realidade, tanto se me ouvirem em Angola, como em Portugal.
IVS: Se pudesses escolher um artista, mesmo que impossível, com quem gostarias de cantar?
D: (Risos). Se estivéssemos a falar de Rap gostava de cantar com o Common, se não fosse, gostaria de fazer uma música com o Michael Jackson.
IV: E um produtor de sonho?
D: Sem dúvida, os Neptunes.
IVS: Esqueci-me de alguma pergunta?
D: Não! Só quero dizer que o álbum está aí em meados de Janeiro, ouçam, comprem, gostem.
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1 comentário:
E quem fala assim não é gago!Ao ler a entrevista vi, acima de tudo, MATURIDADE...enquanto pessoa e enquanto artista! And that...?! you just can't fake it. beijinhosssss
Pamela
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